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sexta-feira, 3 de julho de 2015

O TEMPO E AS JABUTICABAS - Rubem Alves




por Rubem Alves

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo 
para viver daqui para frente do que já vivi até agora.

Sinto-me como aquele menino 
que ganhou uma bacia de jabuticabas. 

As primeiras, ele chupou displicente, 
mas percebendo que faltavam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, 
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir 
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, 
apesar da idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram  
pelo majestoso cargo de secretário geral do coral 
ou semelhante bobagem, seja ela qual for.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, 
quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado 
de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, 
não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, 
não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos 
marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.

 Basta o essencial!






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